domingo, 10 de janeiro de 2010

Nascimento de uma comunidade


Participar do nascimento de uma comunidade (igreja) não é uma tarefa simples. Na verdade, esse momento se torna ao mesmo que sublime, desafiador e fadigoso.

Quando iniciamos um trabalho, nós temos diversos públicos envolvidos. Primeiro, os antigos religiosos, aqueles que freqüentaram igrejas na sua vida pregressa e criaram um conceito de igreja que nem mesmo eles conseguem se encaixar, tanto é que estão de fora e agora, novamente começam a tentar caminhar, mas com exigências dos antigos modelos. Segundo, temos aqueles que de alguma forma já tiveram contato com o Evangelho, mas de forma muito superficial. Alguns têm familiares cristãos, outros tem amigos, já outros, fizeram algum tipo de visita em oportunidades diversas, mas de forma geral, nunca frequentaram uma comunidade cristã e mal compreende os princípios elementares da fé. Esses precisam, mais do que nunca serem discipulados. Terceiro, temos aqueles que estão se achegando, que nunca tiveram a oportunidade de frequentar uma comunidade cristã e nem tiveram contato com a Boa Notícia de Deus para os homens e não compreende a essência da proposta real de uma igreja.

Nesse período do estabelecimento de uma igreja, se torna importante três coisas fundamentais para que a nova comunidade cristã possa ao menos começar a tomar forma.

Em primeiro lugar, é necessário derrubar conceitos e sofismas criados a partir de ideologias equivocadas. As pessoas precisam entender que nem toda experiência religiosa do passado tem que estar certa. Às vezes o modelo arcaico que feriu, continua ferindo a mente e o coração de muitos, que ainda tem como meta ou desafio, sobrepujar-se e mostrar que são capazes de viver naquele antigo modelo. Muitos o fazem de forma inconsciente, apenas por serem reféns do próprio conceito opressor de outrora. Porém, esses tipos de pensamentos e conceitos pré-estabelecidos, só podem ser aniquilados com o conhecimento de Deus.

Quando as pessoas são expostas à verdade da Palavra, o impacto que causa a princípio é de negação daquela verdade, pois muitos tinham como verdade, “aquilo que aprenderam”, mas depois de confrontadas, podem ser libertas de tais conceitos. Ao escrever à Igreja de Coríntios, o apóstolo Paulo, fala da maneira como vencer as fortalezas da altivez religiosa e conceitual quando diz: “Porque as armas da nossa milícia não são carnais, mas, sim, poderosas em Deus, para destruição das fortalezas; destruído os conselhos e toda altivez que se levanta contra o conhecimento de Deus, e levando cativo todo entendimento à obediência de Cristo” (II Co 10.4,5).

Em segundo lugar, precisamos oferecer um discipulado de estudo e convivência em comunidade. Acho que um dos maiores fracassos ligados ao discipulado em nossos dias, não seja apenas na qualidade dos ensinos ministrados, mas principalmente no tempo despendido no discipulado. Jesus investiu muito mais do que ensino teórico nas pessoas, ele investiu também ensino prático e o seu tempo. Por esse motivo, uma das maneiras mais eficaz é de viver em comunidade, estar na companhia das pessoas, passarmos mais tempo juntos. Esse é um dos grandes desafios que nem todos estão dispostos a assumir. Era comum ver Jesus nas casas (Mt 8.14; Mt 9.10; 13.36; Lc 19.5), nas festas (Jo 2.2; 10.23, 12.2), nas ruas (Lc 8.4), nos montes (Mt 5.1; 15.29,30), no templo (Mt 21.12; Mc 11.15), mas sempre na companhia dos seus discípulos.

Oferecer um cristianismo de transformação implica em conviver com as pessoas lhes expondo não somente aos triunfos de nossa vida cotidiana, mas também de nossas carências, inclinações e mazelas, tanto como cristão, quanto discipuladores. As pessoas precisam conviver com gente que seja humanas como elas são, não apenas com caricaturas ou modelos pré-fixados, ou com lideres com dotes ou personagens criados apenas na mente de pessoas cheias de expectativas equivocadas.

Por último, as pessoas precisam saber que elas (nós) é quem necessitam de Deus. Uma igreja que nasce em uma cidade é para o bem das pessoas que se achegam, e também da cidade.
Uma das coisas mais enganosas e sutis é quando vemos as pessoas lidando com uma igreja, como se elas estivessem fazendo um favor para Deus ou para os ministros de Deus. Certa vez, ouvi um pastor dizendo que um certo homem chegou à igreja onde ele pastoreia, dizendo que estava indo ali para ajudá-lo. Então ele respondeu de imediato: “você está vindo para cá, para eu lhe ajudar, eu estou aqui como pastor e ministro de Deus para lhe orientar, lhe apascentar”. A mensagem de Jesus ao iniciar seu ministério foi enfática: “Arrependei-vos, porque é chegado o Reino dos céus” (Mt 4.17). Quando Paulo e Barnabé entraram na cidade de Listra e viram quão idolatras eram o povo daquela cidade, a mensagem foi esta: “convertais dessas vaidades ao Deus vivo, que fez o céu, e a terra, e o mar, e tudo quanto há neles” (At 14.15). Charles Spurgeon disse que nós devemos dizer para as pessoas o risco que elas estão correndo nesse mundo.

Essa consciência deve ser parceira das pessoas que se chegam a uma igreja, e nunca esquecer que Jesus veio para salvar os pecadores, dos quais nós fazemos parte. Um falsa piedade e auto-comiseração, sempre são caminhos alternativos para aqueles que não estão dispostos a colocar-se na condição de pecadores e carentes de Deus. Por isso, a mensagem do Evangelho, alerta as pessoas que Deus nos propõem em amor uma salvação que está para além de nós, mas que se inicia Nele, e que pode ser alcançada por aqueles que crer em seu Filho, Jesus Cristo, o qual nos limpa e nos purifica de toda a culpa, pecado e mancha do passado, nos proporcionando assim a oportunidade viver em novidade de vida.

Por isso, uma igreja que nasce em uma cidade é um sinal de que Deus não desistiu das pessoas, dos serem humanos, mas que nos chama de forma amorosa e ao mesmo tempo confrontante a aceitar a salvação que nos está proposta desde a fundação do mundo.

Paz seja convosco!

André Santos
www.andressantos.com

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